Avançar para o conteúdo principal

Descubra a Arte Contemporânea na Fundação Carmona e Costa

Uma coleção é a materialização da personalidade, gosto e vivência daquele que a reúne. Este espaço, fruto do empenho paciente de Vítor Carmona e Costa e Maria da Graça Carmona e Costa, concentra uma importante colecção de porcelanas da China e faianças portuguesas, através das quais é possível conhecer um pouco da História portuguesa dos séculos XVI ao XVIII e, simultaneamente, algo da personalidade daqueles que a reuniram.

Um dos aspectos estruturais destas duas coleções cerâmicas é o facto de diversos objetos aqui apresentados serem únicos ou muito raros, traçando uma apetência pelo invulgar e pelo que sobressai do comum. A inclinação por estes materiais parece indiciar uma sensibilidade ligada à fragilidade do Belo, à sua efemeridade, associada a uma necessidade de proteger memórias, pessoais e colectivas, abrigando-as num espaço fora da voragem do Tempo, mas permitindo o seu usufruto por aqueles que a elas são sensíveis.

É aqui evidente o gosto pela História e a consciência do modo como ela se projecta na nossa experiência individual. O gosto pela porcelana da China reflecte a vocação nacional para o exótico e para a lembrança
de um período mítico de glória e de abertura ao mundo, levada a cabo pelos portugueses. Na faiança aqui reunida é também sintomática a receptividade a essas referências, no modo como eram (re)interpretadas, associando a prática da olaria tradicional à sofisticação de outros mundos. A permanência de valores na predisposição para a mudança…

Estes são também eixos da personalidade de Vítor Carmona e Costa e Maria da Graça Carmona e Costa: uma curiosidade pelo mundo e a persistência da experiência individual e colectiva do que é ser português, a procura do Belo e a consciência da sua fragilidade e da necessidade que obriga à sua salvaguarda, sem esquecer a generosidade da sua partilha.

Ainda que esta magnífica coleção signifique tudo isto, talvez o que está verdadeiramente na sua essência é
algo mais simples e, simultaneamente, mais complexo. A partilha por mais de meio século de duas vidas, os afectos, as experiências, presenças, ausências, enfim, aquilo que é a condição do ser humano…

Porcelana Chinesa

A coleção de porcelana chinesa reunida por Vítor e Graça Carmona e Costa é constituída por exemplares pintados quer com azul-cobalto sob o vidrado, quer com esmaltes policromos sobre o vidrado, destinados à exportação, que nos permitem evocar o comércio entre a China e a Europa desde o início do século XVI à
atualidade.

Entre as porcelanas azuis e brancas merecem especial realce o extraordinário gomil com a marca do período Zhengde (1506-1521) decorado com versos de um poema persa que convida à oração, provavelmente executado para as florescentes comunidades de mercadores islâmicos no sul da China ou talvez mesmo para os eunucos muçulmanos que desempenhavam importantes cargos na corte chinesa, e um núcleo notável de exemplares azuis e brancos incontornável para o estudo das primeiras encomendas efectuadas pelos portugueses à China.

Estas peças pintadas com as armas reais portuguesas, a esfera armilar, empresa do rei D. Manuel I, e posteriormente também adoptada por seu filho, el-Rei D. João III, o monograma IHS – as iniciais do nome de Jesus em grego –, inscrições em latim e português e brasões de armas de nobres que se notabilizaram no Oriente, são importantes testemunhos não só do pioneirismo dos portugueses na encomenda de porcelana armoriada, precedendo em cerca de 150 anos os outros povos europeus, mas também do comércio clandestino estabelecido entre portugueses e chineses durante o corte de relações entre 1522 e 1554. Um número significativo de objetos designados por kraakporselein, o prato com as armas dos Lancastre e algumas peças do reinado Kangxi (1662-1722) com decoração chinesa, mas também europeia copiada a partir de desenhos e gravuras enviadas do Velho Continente, completam o núcleo azul e branco.

A porcelana policroma é essencialmente constituída por artigos com forma e / ou decoração ocidentais, designada por “porcelana de encomenda” inspirada em modelos em prata, faiança, estanho, vidro e madeira, que juntamente com desenhos e gravuras eram enviados às centenas para a China.

As peças quase todas destinadas à mesa permitem-nos abordar os hábitos alimentares do século XVIII e questionar a origem de alguns dos protótipos que lhe serviam de inspiração. Entre terrinas, pratos, travessas, saleiros, manteigueiras, peixeiras, bules, cestos para fruta, garrafas, refrescadores para copos e garrafas, entre outras, são de realçar as coloridas terrinas em forma de ganso, inspiradas em protótipos de Estrasburgo, Höchst, Delft, Chelsea e Lisboa. São de realçar na senda da porcelana armoriada do século XVI, as peças de serviços brasonados atribuídos a António de Sousa Falcão de Saldanha José Coutinho, Pamplona Carneiro Rangel Baldava de Tovar a Joaquim Inácio da Cruz Sobral e ainda a terrina, com sua travessa decorada com a estátua equestre de D. José I, que integrou o serviço onde foi servido o jantar organizado pela Casa dos Vinte e Quatro aquando da inauguração da estátua, 20 anos após o terramoto de 1755, e uma manteigueira com a deusa Juno segurando o medalhão com os retratos e busto de D. Maria I e seu marido D. Pedro III.

A coleção Carmona e Costa integra ainda algumas peças de porcelana chinesa decorada na Europa. Tal como os colecionadores régios, a nobreza, o clero e a alta burguesia de outrora, as colecções reunidas pelos portugueses mais recentemente são a prova evidente do fascínio exercido pela porcelana desde o século XVI à contemporaneidade.

Faiança Portuguesa

A colecção de faiança portuguesa da Fundação Carmona e Costa distingue-se pela invulgaridade de alguns dos objectos que a integram. Mais do que um conjunto que permite o conhecimento cronológico de uma das mais interessantes manifestações artísticas nacionais, ela congrega peças – na sua maioria únicas ou raras – que elucidam o visitante acerca da rica diversidade de propostas da manufactura seiscentista nacional.

De entre as peças mais inesperadas, produzida c.1620-1630, destaca-se uma garrafa em forma de sereia, original na morfologia e na utilização da cor laranja nela empregue. Provavelmente destinada a exportação, esta, tal como uma bilha com decoração orientalizante estilizada ou a panela com o brasão associado aos Silva e datada de 1658, são testemunho eloquente de um período de apogeu na produção cerâmica portuguesa.

Provavelmente de meados do século são o contentor em forma de cão, notável pela sua concepção ergonómica adaptada à palma de uma mão, ou a bilha cuja decoração lembra uma composição textil e que deverá associar-se à produção de Coimbra.

A um período mais tardio, que se pode localizar temporalmente entre 1660-1680, são os vários objectos que ostentam uma delicada decoração que se concencionou denominar “Desenho miúdo”. Impressionam pela sua qualidade, nesta colecção, um pote onde figuram sereias e pescadores chineses, uma pequena garrafa com monges atravessando pontes, um prato apresentador que congrega temas orientais da mitologia clássica e do Antigo Testamento e duas peças de grande delicadeza, uma escudela com tampa e uma jarrinha, surpreendentes pela sua dimensão diminuta.

Já do início do século XVIII são de destacar as duas grandes garrafas, uma das quais em forma de cabaça, exemplificadoras das novas vias da nova cerâmica nacional, que só foi retomada plenamente com a afirmação das fábricas de louça, no 3º quartel de Setecentos.

Eventos



This site is registered on wpml.org as a development site. Switch to a production site key to remove this banner.